segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Por que não vão ajudar as crianças com fome?

Olá pessoal! Faz tempo que eu não aparecia por aqui. Mas agora estou de volta! :) Hoje resolvi mostrar um texto que eu já conhecia de longa data, que circula pela internet desde então. Ele foi escrito por Francisco José Papi, um técnico de informática de Erechim/RS, e pelo que consta foi um texto feito na hora e acho que durante uma conversa pelo extinto orkut. Esse texto ficou tão famoso durante todo esse tempo, pois todo mundo que ama os animais e luta por eles, já se deparou com alguém que lhes fez essa pergunta: "Mas por que vc não vai cuidar das crianças carentes?".
E eis que aqui está a resposta perfeita! Por Francisco José Papi: Por que não vão defender as crianças com fome? Questão interessante. Vamos ver se essa eu consigo responder de modo tão didático quanto a anterior. Primeiro: com esse fraseado você admite que existem dois tipos de pessoas no mundo, as Pessoas Que Ajudam e as Pessoas Que Não Ajudam. Além disso, admite também que você faz parte das Pessoas Que Não Ajudam; afinal, do contrário, você diria algo do tipo “Por que não me ajudam a defender as crianças com fome?”, ou “Venham defender comigo as crianças com fome!”, ou “Não, obrigada, vou defender as crianças com fome”. Então você se coloca claramente através de sua escolha de palavras como uma Pessoa Que Não Ajuda. Ora, é curioso que você, Pessoa Que Não Ajuda, não faça nenhum esforço para ajudar, mas sim para tentar dirigir as ações das Pessoas Que Ajudam para onde você quer que elas vão. É bastante interessante; se eu fosse até sua casa organizar sua vida financeira sob a alegação de que eu sei muito mais sobre administração familiar eu estaria interferindo, mas você se sente no direito de interferir nas ações que uma pessoa resolve tomar para aliviar os problemas que ela encontra ao seu redor. Você é uma Pessoa Que Não Ajuda, mas ainda assim quer decidir quem merece ajuda das pessoas Que Ajudam. O nome disso é “prepotência”. Segundo: Pessoas Que Ajudam nunca vão ajudar as “crianças com fome”. Nem tampouco os “velhos”, os “doentes” ou os “despossuídos”. E sabe por que? Porque “crianças com fome” ou “velhos” ou qualquer outro destes é abstrato demais. Não têm face, não são ninguém; são figuras de retóricas de quem gosta de comentar sobre o estado do mundo atual enquanto beberica seu uisquezinho no conforto de sua casa. Pessoas Que Ajudam agem em cima do que existe, do que elas podem ver, do que lhes chama naquele momento. Elas não ajudam “os velhos”; elas ajudam “os velhos do asilo X com 50,00 reais por mês”. Elas não ajudam “as crianças com fome”; elas ajudam “as crianças do orfanato Y com a conta do supermercado”. Elas não ajudam “os doentes”; elas ajudam o “Instituto da Doença Z com uma tarde por semana contando histórias aos pacientes”. Pessoas Que Ajudam não ficam esperando esses seres vagos e difusos como as “crianças com fome” baterem na porta da sua casa e perguntar se elas podem lhe ajudar. Pessoas Que Ajudam vão atrás de questões muito mais pontuais. Pessoas Que Ajudam cobram das autoridades punição contra quem maltrata uma cadela indefesa sem motivo. Pessoas Que Ajudam dão auxílio a um pai de família que perdeu o emprego e não tem como sustentar seus filhos por um tempo. Pessoas Que Ajudam tiram satisfação de quem persegue uma velhinha no meio da rua. Pessoas Que Ajudam dão aulas de inglês de graça para crianças de um bairro pobre. Pessoas Que Ajudam levantam fundos para que alguém com uma doença rara possa ir se tratar no exterior. Pessoas Que Ajudam não fogem da raia quando vêem QUALQUER COISA onde elas possam ser úteis. Quem se preocupa com algo tão difuso e sem cara como as “crianças com fome” são as Pessoas Que Não Ajudam. Terceiro: Pessoas Que Ajudam são incrivelmente multitarefa, ao contrário da preocupação que as Pessoas Que Não Ajudam manifestam a seu respeito. (Preocupação até justificada porque, afinal, quem nunca faz nada realmente deve achar que é muito difícil fazer alguma coisa, que dirá várias). O fato de uma pessoa Que Ajuda se preocupar com a punição de quem burlou a lei e torturou inutilmente uma cadela não significa que ela forçosamente comeu o cérebro de crianças pequenas no café da manhã. Não existe uma disputa de facções entre Pessoas Que Ajudam do tipo “humanos versus animais”. Geralmente as Pessoas Que Ajudam, até por estarem em menor número, ajudam várias causas ao mesmo tempo. Elas vão onde precisam estar; portanto muitas das Pessoas Que Ajudam que acham importante fazer valer a lei no caso de maus-tratos a um animal são pessoas que ao mesmo tempo doam sangue, fazem trabalho voluntário, levantam fundos, são gentis com os menos privilegiados e batalham por condições melhores de vida para aqueles que não conseguem fazê-lo sozinhos. Talvez você não saiba porque, afinal, as Pessoas Que Ajudam não saem alardeando por aí quando precisam de assinaturas para dobrar a pena para quem comete atrocidades contra animais que estão fazendo todas estas outras coisas, quase que diariamente. E acho que é por isso que você pensa que se elas estão lutando por uma causa que você “não curte”, elas não estão fazendo outras pequenas ou grandes ações para os diversos outros problemas que elas vêem no mundo. Elas estão, sim. E se fazem ouvir como podem, porque sempre tem uma Pessoa Que Não Ajuda no meio para dar pitaco. Então, como diria meu avô, “muito ajuda quem não atrapalha”. Porque a gente já tem muito trabalho ajudando a Preta [provavelmente a cadela assassinada na época depois de arrastada por vários quilômetros por um carro cheio de criminosos] e todas as outras pessoas e animais que precisam (algumas até poderiam ser chamadas tecnicamente de “crianças com fome”, se assim você prefere). Espero que isso tenha respondido à sua questão. (este texto pode e deve ser reproduzido)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A carne realmente é fraca!



O assunto que vou tratar agora é talvez o tema que mais provoque guerras internas, extravasamentos e acessos de raivas de ambos os lados, favoráveis e contrários, e a não aceitação por grande parte da população.
E isso tudo por se tratar de algo tão peculiar e que há tempos deixou de ser uma fonte vital de nossa existência para passar a ser o nosso maior “pecado” e a nossa maior subjugação.
Afinal de contas, o ser humano, um animal que não tem freio em seus desejos (nem freio moral, nem sustentável), não seria diferente com relação a um de seus maiores prazeres e desprazeres: a comida!
Antes de começar a escrever minha explanação a cerca do assunto, vou dar um breve histórico sobre como essa atitude surgiu.
Tudo começou no ano de 1992 quando eu, aos 8 anos de idade e num precoce despertar de uma consciência ética, decidi virar vegetariana. Antes disso vale a pena dizer que desde que me conheço como um indivíduo que faz parte desse mundo, sempre tive os animais como meus amigos e não como a minha comida e, para mim, os seres a quem meu coração mais transbordava. Tanto que o ativismo em mim já havia feito seu debute quando aos 5 anos de idade denunciei ao IBAMA áreas de mata nativa sendo queimadas por uma indústria de peso.
Bem, na época e na idade em que decidi nunca mais colocar cadáveres em minha boca, o mundo não falava sobre vegetarianismo. Ainda mais com uma garotinha tão pequena e que residia numa cidadezinha do interior do estado de São Paulo. O meu posicionamento e a minha atitude afloraram a partir não só do amor que me condoia, mas também de indagações e de um sentimento de injustiça que era crescente.
Resumindo, só posso agradecer aos meus progenitores por acatarem essa minha decisão tomada tão precocemente, não me forçarem a abandoná-la e ainda ajudarem.
E, com o passar dos anos, o sentimento de injustiça, perplexidade e horror perante a degradação, exploração e tortura que um ser humano é capaz de aplicar num animal, só tomaram proporções inimagináveis.
O problema vai muito além daquela desculpa usual de quem não quer sujar a sua consciência: “Comer carne faz parte do ciclo da vida. É algo natural”.
Porém essa fuga da culpa cai facilmente por “água abaixo” (ou melhor, por sangue abaixo), pois é inconcebível conceituar como “natural” a mecanização, os propósitos, meios e fins de toda a suja indústria da carne.
Como pode se achar natural um animal não se enquadrar nem na definição de onívoro, passando a ser um “devorador cancerígeno”, achando normal a sua “metástase” alimentar compreender desde ovos e leite, um alimento feito somente para filhotes com a função da engorda e do acúmulo de gorduras, passando por insetos, anfíbios, mamíferos em geral (tanto terrestres quanto aquáticos), aves, répteis, crustáceos, moluscos e agora devorando até peixes abissais? Acredito que passamos pelo mundo, como uma draga. Como uma mortal rede de arrasto em todo o oceano. E a nossa boca tendo um poder de matar bilhões de animais todos os dias. Para se ter uma idéia, 1.500 pintinhos são mortos em apenas uma granja todos os dias, e cerca de 600 mil bois são mortos à medida que você lê este artigo.



E estamos pagando um preço muito alto por isso, que vai desde a nossa saúde física, como também moral. Mas, é claro, esse preço é infinitamente menor ao preço que Gaia e os animais não-humanos pagam, por nossa causa.
E é preciso acordar pra isso. Criar urgente a consciência E nos livrar de nossa atitude “viral”.
Qualquer minucioso exame já nos revela exemplos aterrorizadores de onde a indústria da carne, lobis milionários e uma população inerte podem chegar: granjas superpovoadas a um ponto de uma galinha passar sua existência sem conseguir abrir as asas, num espaço equivalente a uma folha de papel, comendo e engordando constantemente para enfim degoladas serem servidas fritas ou assadas; porcos, vacas leiteiras e bezerros mantidos num confinamento ainda pior, com seus membros atrofiados por lhes negarem espaço até para simples passos – a exemplo o vitelo, confinado numa baia escura, preso pelo pescoço, sem nenhum estímulo visual ou convívio com sua espécie, recebendo uma ração pobre em nutrientes para morrer de anemia tornando assim, sua carne mais macia. Baleias, tubarões, golfinhos e toda a sorte (ou melhor, azar!) de peixes e vida aquática esgotados em seus mares e rios.
“Quando o almoço está em jogo, parece mais confortável fechar os olhos à realidade dos matadouros, granjas industriais e outras unidades de produção intensiva de animais de corte. É preferível pensar em bois, porcos e galinhas crescendo felizes numa fazenda idílica, e depois morrendo de forma indolor – o oposto do que ocorre de fato”. (Peter Singer)
E ainda sabemos hodiernamente, que a carne não é insubstituível. Nossa desculpa perante ela é a satisfação do paladar apenas. E essa satisfação não justifica o sofrimento, a degradação e a escravidão que submetemos os animais não-humanos. Dagomir Marquesi, escritor e outro militante da causa, indaga: “A pergunta básica é: nós, humanos, temos direito a isso? Quem nos deu esse direito? Nosso paladar é tão importante assim na ordem das coisas? Um sabor diferente em nossas bocas justifica tudo?”.



Será mesmo que um pedaço tão pequeno de seu corpo, que é a língua (responsável por nosso paladar), pode comandar ações de seu corpo e sua consciência? Pode escravizar seu senso ético? Seu poder de julgamento?
Mas então, o que fazer? Qual a solução? Abolir a carne de nossa alimentação? Para nós humanos, a quebra de conceitos sempre foi algo bem difícil. Não conseguimos aceitar as diferenças e enraizamos e idolatramos os costumes, por mais ignorantes que sejam. O racismo, que é algo considerado “recente” persiste até hoje, bem como neonazistas. Então imaginemos só o especismo que está embutido em nós desde que o homem adquiriu um pouco de raciocínio (raciocínio este bem questionável) e prepotência, o quão difícil é de se desvencilhar. Nunca vimos com bons olhos às mudanças de conceitos. E a cultura sempre dita as regras em nossa sociedade.
Mas a resposta simples para essas perguntas é: a ação prática imprescindível para a mitigação do sofrimento animal é a adoção sim, de uma dieta mais vegetariana pela população.
A terra utilizada para a pecuária serviria ao cultivo de uma quantidade muito maior de proteína vegetal. Aliás, a maior parte das terras cultivadas no mundo não é para alimentar a nossa precária civilização, mas sim para alimentar animais de corte. A Amazônia está sendo varrida do mapa devido a ação da pecuária e da agricultura para alimentar essa pecuária. Florestas e animais criados para gerar carne competem pela mesma terra. A fome mundial está diretamente vinculada à dieta que escolhemos. E o que advém a ela são ainda todas as catástrofes sociais, ambientais e extinções.
Se adotássemos uma alimentação mais vegetal, não seria preciso (devido à menor quantidade de gados, porcos, galinhas, peixes, etc) práticas sofríveis e degradantes à eles, como o confinamento, a extinção em massa, a ingestão de hormônios para seus corpos crescerem em pouco tempo e o abate poder ser feito com meses de vida.
Será que é tão difícil enxergar que cada vez que artificializamos mais esses animais, pensando no retorno econômico e para atender a demanda, sofremos as conseqüências? Doenças como a vaca-louca, gripe aviária, gripe suína, e o ebola são apenas alguns exemplos para comprovar. Segundo a revista inglesa The Economist, nada menos que 60% das doenças humanas surgidas nos últimos 20 anos têm origem em outras espécies animais para consumo humano. “Para tentar controlar essas doenças, cometemos mais brutalidade: enterramos milhões de aves vivas, afogamos gatos selvagens em piscinas de desinfetante. Provocamos o desastre e massacramos as vítimas. Temos um caminho inteligente: racionalizar, humanizar e diminuir cada vez mais o consumo de animais. Ou podemos continuar o banho de sangue. Aí, todos nós pagaremos o preço”. – Dagomir Marquesi
Diante dessas questões, eu acredito que o primeiro passo e o fundamental é ter a noção abrangente dessa opressão, que está nos levando também a morte; é enxergar que estamos sendo ao extremo especistas e provocando a carnificina; e que não somos nada além do que mais uma espécie na Terra, aliás, a pior espécie da Terra. É ter a ética e rever nossos conceitos, pensamentos e atitudes. É não apenas ter um discurso bonito e uma prática vergonhosa. É largar a tirania e aceitar que outras espécies possuem os mesmos direitos que você, que lhe são tão negados.
E acredito que os infindáveis debates entre vegetarianos e onívoros seriam facilmente terminados a partir de uma simples revisão de sua própria consciência. Bastaria a ambos enxergá-la e, vegetariano e onívoro, pesarem e verem qual deles poderia deitar a cabeça em seu travesseiro e sonhar.



Respeitar animais é o mesmo que respeitar os humanos. Pois quando um homem leva um animal aos porões da degradação (e somos bons nisso!), está se degradando junto. “Torturamos animais por diversão, devoramos a carne macia de filhotes, exterminamos espécies inteiras sem uma ruga de compaixão. Somos os senhores do Universo, cada vez menores em nosso egoísmo imaturo. E com toda nossa prepotência “racional”, nos esquecemos de que somos tão animais quanto um jegue ou uma barata, um tigre ou um pardal”. – Dagomir Marquesi.
A libertação animal que proponho defendermos é inadiável e constitui um fim em si mesma, mas também, em última análise, à urgente libertação moral do próprio.
Nosso passado, presente e a previsão do futuro nos mostram a quão nossa espécie caminha junto ao desequilíbrio, para não dizer extinção, e o quanto isso afeta principalmente todas as outras formas de vida.
A grandeza do homem, ressaltada principalmente por poetas que possuem uma visão sistêmica e conseguem enxergar algo além pode ser comprovada em sua magnificência quando usamos a bondade e a ética em nós existentes. Não deixemos conceitos prepotentes e culturas ignorantes sublimar a nossa condição de meros componentes de um planeta “doente por nossa culpa”. Terminando este artigo, deixo uma frase de um ser humano que soube desvencilhar-se desses vícios de grandeza, enxergou o próximo e fez de sua vida, metaforicamente falando, um livro de lições para ser adquirido, absorvido, guardado e eternizado.

“A grandeza de uma nação pode ser medida pelo modo como seus animais são tratados”. Mahatma Gandhi


Mirella Ferraz Nogueira

sábado, 13 de dezembro de 2008

Pirassununga, mostra a tua cara!

Espanto e repudio, foram os sentimentos que me afloraram frente aos relatos veiculados na imprensa, denunciando a forma como os animais do Canil Municipal estavam vivendo e foram tratados ao longo de sua triste trajetória de sete anos de subjugação. Maior do que quaisquer explanações, as imagens que presenciei in loco, durante minha visita essa semana, não deixam dúvidas dos crimes cometidos contra a vida animal.
Nossa população não pode continuar a permitir que seus impostos sejam empregados para fins criminosos, pois que todos se lembrem e que as autoridades não deixem ninguém esquecer, que maus-tratos a animais é crime previsto por lei! E as testemunhas, nessa denúncia, corajosamente relatam passagens dignas de um genocídio, com cães morrendo todos os dias e o número de mortes chegando a mais de 150 em um único final de semana.
A infra-estrutura do canil é precária, e não se precisa andar muito para constatar irregularidades. Alojamento sem proteção das intempéries. Caixa d’água sem cobertura e com seu conteúdo evidentemente isento de higiene e/ou tratamento, denotando local perfeito (ainda com propícia época do ano) para proliferação de mosquitos Aedes aegypti (Dengue).
A apropriação indevida de bens públicos também é presente. O antigo ambulatório foi transformado em depósito de entulhos, aprisionamento de galinhas e galos delgados e reservatório de guano. Sendo assim, nos leva a pensar que os animais assistidos no canil não recebem nem o mínimo de assistência médica em casos de emergência ou possíveis acidentes do dia-a-dia. A inexistência do gatil, que foi transformado em confinamento de magros porcos, por um funcionário público. Além do capital empregado com o dinheiro do povo contribuinte e hoje servindo para o deleite de terceiros, os animais se encontravam em péssimas condições. Ambiente sem nenhum asseio, animais em contato direto com suas próprias fezes e urinas. As aves em local sem ventilação ou exposição de luz solar e suínos aprisionados. Em ambos os locais, não encontrei alimentação, e a água destinada aos porcos era completamente turva em conseqüência da urina e do barro.
Durante essa semana em que lá estive algumas vezes, mesmo sendo sempre em horário comercial, nenhum funcionário do Canil se encontrava presente, o que denuncia além de descaso, uma preocupação por minha parte, uma vez que a permanência de cães e gatos recolhidos nos canis e gatis têm por objetivo permitir aos proprietários localizar e recuperar seus animais, e favorecer a adoção e posse responsável pela população. O isolamento geográfico, o difícil acesso e a carência de funcionários não permitem que as funções para a existência de um canil sejam exercidas, e nem ao menos que os cidadãos peçam informações a respeito de seu funcionamento ou tome conhecimento de sua situação.
Tudo o que está sendo hodiernamente mostrado não pode se olvidar. Quando humanos são capazes de levar um ser sensciente aos porões da degradação (e em se tratando de animais somos melhores ainda nisso), a “massa” precisa se levantar e escutar o silencioso grito dos inocentes.
Para mudar urgentemente esse quadro, fica aqui meu apelo e a convocação para toda a população consciente e sensível de Pirassununga. Divulguem as informações. Procurem os órgãos públicos e DENUNCIEM. E se tiverem mais provas ou souberem de algo, testemunhem. Assumam suas responsabilidades e deveres de cidadãos. Existem muitas pessoas, em diversas áreas, que são “lobos em pele de cordeiro” (com o perdão da palavra lobo), assim como alguns veterinários que não seguem de acordo com o próprio juramento que fizeram ao final de sua formatura. Portanto Pirassununguenses, certifiquem-se de quem realmente faz algo para os animais, de quem realmente faz campanhas sérias e às claras de doações de cães e gatos e de quem está ciente e sensibilizado com o sofrimento das vítimas, sejam elas do nosso Canil Municipal ou oriundas de exibições e espetáculos incompatíveis com a dignidade de um animal, como os circos ou rodeios. Ademais, se a carapuça servir a alguém nessas palavras, espero que a bondade e o caráter toquem por fim seu coração e suas ações.
E para todos, deixo no meu desejo de final de ano, que todos nós transbordemos condolências e lutemos contra a crueldade, ignorância e inconseqüência humana que estão sendo acometidas aos prisioneiros do Canil; para aos quais, os pedidos de Natal, serão continuarem vivos no próximo ano.


Mirella Ferraz Nogueira
Gestora Ambiental
CREA 5062333570

sábado, 6 de dezembro de 2008

Denúncia: Canil Municipal de Pirassununga


Matéria publicada no jornal JC Regional, do dia 06/12/08

"CANIL MUNICIPAL: ASSOMBROSO E ILEGAL



Os adjetivos são muitos diante da falta de sensibilidade para com os animais. Pirassununga que se orgulha de ter um povo ordeiro e fraterno, não pode fechar os olhos para as barbaridades que acontecem no canil.

Diante de várias denúncias que chegavam à redação do JC Regional, sobre sacrifícios de animais no canil municipal, e outras de maus tratos, a reportagem foi até o local, verificar a real situação.



Verificamos que a chuva e o sol entram por um lado e saem pelo outros, pois não há proteção; os animais permanecem no chão, sem papelão, tablado ou casinha, e os filhotes morrem de frio. No inverno as baias são lavadas com esguicho e os cães têm que ficar no frio e no molhado.

O que era um caprichado gatil, se transformou em chiqueiro, onde funcionário municipal cria porcos.

A reportagem foi recebida por Dona Neusa, uma senhora de 58 anos, que mora há sete anos numa casa ao lado do canil. Ela informou que não paga aluguel do imóvel, porque trabalha cuidando dos animais, sem remuneração. Ela foi colocada lá por Associação Protetora dos Animais.

Agora foi despejada pela municipalidade e deve desocupar a casa até o dia 25. "Eu sou um espinho na garganta deles. Eu não só cuido daqui, eu vejo tudo. Eu fui aos quatro cantos da cidade chorando, implorando ajuda, pedindo para que viessem ver o que acontece aqui", relata.

Dona Neusa conta que nestes sete anos testemunhou a barbárie que pode o ser humano praticar contra animais. "Vi muita coisa errada. Muito cachorro passando fome, maltratado, que chega machucado e não recebe assistência. Raramente cuidam de um cão doente. Vi muita morte, chorei muito atrás daquela porta (fala apontando para a porta da casa onde mora). Porque eu cuidava deles a semana inteira, e me apegava aos bichinhos. Daí eles vinham e matavam", conta emocionada.


Segundo a mulher, a veterinária responsável vai ao local uma vez por semana, e quando vai é para sacrificar os cães. Diz que pessoas de todo o município ligam pedindo para recolher animais ao canil, e quando se trata de Pit Bull ou Rotwailler, os homens do Corpo de Bombeiros recolhem e levam.

Estas raças, consideradas perigosas, não ficam além de cinco dias. A veterinária faz a triagem e escolhe aquele que morre ou sobrevive. "Perdi a conta de quantos cães foram mortos. Alguns lances que testemunhei, jamais vou esquecer: tempos atrás o prefeito ordenou que limpassem a cidade e a Cachoeira de Emas, e vieram todos para cá. Tínhamos 158 cães e numa segunda-feira, às 9 horas, não havia mais nenhum. Mataram todos", denuncia a mulher.

"Outra vez, em 2004, disseram que iam fechar o canil e aí foi outra matança. Só consegui salvar dois. Um funcionário municipal cuidou de exterminar todos. Uma injeção de cloreto de potássio ou o T 61 (que provoca morte mais rápida que o potássio)" desabafa dona Neusa.


História repugnante sobre um Rotwailler é relatada por ela: "ele estava aqui no canil e foi usado numa farsa montada pelos próprios humanos que teriam que cuidar dele. Provocaram o cachorro o dia inteiro e levaram para a cidade. Daí chamaram os bombeiros para pegar e trazer de volta. Só que, depois de preso na gaiola a veterinária simplesmente matou ele com injeção".
Questionada sobre como é a recolha e doação dos animais, Dona Neusa afirma que nunca houve registro de entrada ou saída de animais. Um homem que é o responsável oficial pelo canil, só aparece pela manhã e some. A senhora conta que nas madrugadas, quando acontece tentativa de furtos de cavalos, é ela quem aciona a Guarda Municipal.

"Tem uma mulher que se diz muito defensora dos animais que pegava no portão cães trazidos por populares, dizendo para ficarem tranquilos que ela cuidaria com carinho. Bastava a pessoa dar as costas e ela dizia - mais um para Jesus -, ou seja, ia para a morte. Ela diz que não mata cachorros, que quem mata é Jesus. E olha, veio para cá uma cadela grande e forte, cheia de leite, com oito filhotes lindos, não esperaram nem o desmame e mataram todos", indigna-se D. Neusa.



Ela também denuncia que ultimamente haviam chamados para buscar cães, que nunca chegaram ao canil. Como o caso de uma senhora residente na Zona Norte que faleceu deixando nove cães. A família pediu para levá-los ao canil e viram quando foram dopados e colocados na ambulância, porém desapareceram.

A reportagem procurou três vezes, pessoalmente, pelo secretário Jorge Luís Lourenço, sem êxito. Ou ele não havia chegado, ou estava em reunião, muito ocupado, ou tinha saído.

Os Padres Mauro Sérgio Souza, Humberto Cabobianco e Monsenhor Octávio Dorigon, e o empresário Alexandre Donizeti Moraes enviaram ofício ao Prefeito Ademir Alves Lindo e ao presidente da Câmara Nelson Pagoti, alertando sobre o canil municipal, mantido pela municipalidade, onde cães apreendidos são confinados sem infra-estrutura e são sacrificados, sem que haja motivo relevante ou necessidade.




O texto aborda que tal situação fere os valores cristãos e morais de uma sociedade justa, além de confrontar princípios estabelecidos pela Carta Magna, na Lei de Crimes Ambientais e no Código de Proteção aos Animais do Estado de São Paulo.

Solicitaram especial empenho e providências imediatas para que parem os sacrifícios de animais, tenham instalações adequadas para abrigá-los, cumpra-se a Lei de Controle de Zoonoses e trabalhem numa ampla campanha de conscientização para toda população, sobre a posse responsável".


LEI Nº 12.916, DE 16 DE ABRIL DE 2008

(Projeto de lei nº 117/08, do Deputado Feliciano Filho - PV)

Dispõe sobre o controle da reprodução de cães e gatos e dá providências correlatas

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:

Artigo 1º - O Poder Executivo incentivará a viabilização e o desenvolvimento de programas que visem ao controle reprodutivo de cães e de gatos e à promoção de medidas protetivas, por meio de identificação, registro, esterilização cirúrgica, adoção, e de campanhas educacionais para a conscientização pública da relevância de tais atividades, cujas regras básicas seguem descritas nesta lei.

Artigo 2º - Fica vedada a eliminação da vida de cães e de gatos pelos órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais congêneres, exceção feita à eutanásia, permitida nos casos de males, doenças graves ou enfermidades infecto-contagiosas incuráveis que coloquem em risco a saúde de pessoas ou de outros animais.

§ 1º - A eutanásia será justificada por laudo do responsável técnico pelos órgãos e estabelecimentos referidos no caput deste artigo, precedido, quando for o caso, de exame laboratorial, facultado o acesso aos documentos por entidades de proteção dos animais.

§ 2º - Ressalvada a hipótese de doença infecto-contagiosa incurável, que ofereça risco à saúde pública, o animal que se encontre na situação prevista no "caput" poderá ser disponibilizado para resgate por entidade de proteção dos animais, mediante assinatura de termo de integral responsabilidade.

Artigo 3º - O animal com histórico de mordedura, injustificada e comprovada por laudo médico, será inserido em programa especial de adoção, de critérios diferenciados, prevendo assinatura de termo de compromisso pelo qual o adotante se obrigará a cumprir o estabelecido em legislação específica para cães bravios, a manter o animal em local seguro e em condições favoráveis ao seu processo de ressocialização.

Parágrafo único - Caso não seja adotado em 90 dias, o animal poderá ser eutanasiado.

Artigo 4º - O recolhimento de animais observará procedimentos protetivos de manejo, de transporte e de averiguação da existência de proprietário, de responsável ou de cuidador em sua comunidade.

§ 1º - O animal reconhecido como comunitário será recolhido para fins de esterilização, registro e devolução à comunidade de origem, após identificação e assinatura de termo de compromisso de seu cuidador principal.

§ 2º - Para efeitos desta lei considera-se "cão comunitário" aquele que estabelece com a comunidade em que vive laços de dependência e de manutenção, embora não possua responsável único e definido.

Artigo 5º - Não se encontrando nas hipóteses de eutanásia, autorizadas pelo artigo 2°, os animais permanecerão por 72 (setenta e duas) horas à disposição de seus responsáveis, oportunidade em que serão esterilizados.

Parágrafo único - Vencido o prazo previsto no caput deste artigo, os animais não resgatados, serão disponibilizados para adoção e registro, após identificação.

Artigo 6º - Para efetivação deste programa o Poder Público poderá viabilizar as seguintes medidas:

I - a destinação, por órgão público, de local para a manutenção e exposição dos animais disponibilizados para adoção, que será aberto à visitação pública, onde os animais serão separados conforme critério de compleição física, de idade e de temperamento;

II - campanhas que conscientizem o público da necessidade de esterilização, de vacinação periódica e de que o abandono, pelo padecimento infligido ao animal, configura, em tese, prática de crime ambiental;

III - orientação técnica aos adotantes e ao público em geral para os princípios da tutela responsável de animais, visando atender às suas necessidades físicas, psicológicas e ambientais.

Artigo 7º - Fica o Poder Público autorizado a celebrar convênio e parcerias com municípios, entidades de proteção animal e outras organizações não-governamentais, universidades, estabelecimentos veterinários, empresas públicas ou privadas e entidades de classe, para a consecução dos objetivos desta Lei.

Artigo 8º - A infração aos dispositivos desta lei acarretará a aplicação de multa pecuniária no valor correspondente a 500 (quinhentas) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo - UFESP, aplicadas em dobro na hipótese de reincidência.

Parágrafo único - Vetado.

Artigo 9º - Vetado.

Artigo 10 - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta de dotações orçamentárias próprias.

Artigo 11 - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, aos 16 de abril de 2008.

José Serra

Luiz Roberto Barradas Barata

Secretário da Saúde

Aloysio Nunes Ferreira Filho

Secretário-Chefe da Casa Civil

Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 16 de abril de 2008.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Animais na Ciência





Na questão dos testes e experimentos com animais em laboratórios, na maioria dos casos estes não representam benefícios ao homem. Adotados em áreas como a psicologia, as pesquisas militares e a indústria de produtos que vão desde medicamentos até cosméticos, produtos de limpeza, velas e canetas. “É enorme o risco de se extrapolar de uma espécie a outra os resultados de experimentos científicos. Substâncias liberadas após se mostrarem inofensivas aos animais foram muitas vezes catastróficas para os seres humanos”. – diz Adriana Lisboa. Isto sem falar na exposição a atos de crueldade extremos sob a desculpa de que estão sendo realizadas experiências que seriam úteis para os humanos.

Em seu livro “Libertação Animal”, Peter Singer cita experiências que foram realizadas em décadas passadas no Instituto de Radiobiologia das Forças Armadas dos EUA, em que macacos do gênero Rhesus eram forçados a correr dentro de uma grande roda. Quando eles reduziam a velocidade, a roda fazia o mesmo e os macacos levavam choques elétricos. Quando os macacos já estavam treinados para correr por longos períodos recebiam doses letais de radiação, e então, sentindo-se mal e vomitando, eram obrigados a continuar correndo até cair. A suposta finalidade desta “experiência” era obter informações sobre a capacidade dos soldados de continuar lutando depois de um ataque nuclear.

Mais de 70 milhões de animais são usados em experimentos a cada ano só nos Estados Unidos. Uns poucos exemplos mais notórios da vivissecção podem ser esclarecedores para os menos informados (tirado do livro "Victims of Science" de R. Ryder):

- Psicólogos deram choques elétricos nos pés de 1042 ratos. Eles então experimentaram dar choques mais intensos, que causaram convulsões, através de eletrodos pontiagudos aplicados aos olhos dos animais ou através de prendedores aplicados às suas orelhas.

- Um grupo de 64 macacos foram induzidos à dependeria de drogas por injeção automática nas veias jugulares. Quando o abastecimento das drogas foi cortado abruptamente, observou-se que alguns dos macacos morreram em convulsões. Antes de morrerem, alguns dos macacos arrancaram todos os pelos
de seu corpo e arrancaram seus próprios dedos das mãos e dos pés à dentadas.

Outros casos clássicos, descritos no livro, remete-se a área da Psicologia (considerada uma das mais cruéis e evasivas). Em experimentos para se descrever as conseqüências da privação materna, pesquisadores tiveram a “fascinante idéia” de induzir macacos bebês à depressão “permitindo que se apegassem a mães de pano que podiam transformar-se em monstros”. O primeiro destes monstros foi uma macaca-mãe de pano que lançava ar comprimido de alta pressão, arrancando a pele do bebê, que se agarrava cada vez mais ao boneco de pano, porque um bebê com medo se agarra à mãe a todo custo. Logo após construíram outra mãe-monstro que se sacudia violentamente, chacoalhando a cabeça e os dentes do recém-nascido, que continuava a se agarrar ainda mais a "mãe". O terceiro monstro continha uma estrutura de arame dentro do corpo que se inclinava pra frente, jogando o bebê para longe de sua superfície ventral. Surpreendentemente o bebê levantava-se do chão, esperava a estrutura voltar ao corpo de pano e agarrava-se novamente a ela. Finalmente, construíram uma mãe porco-espinho, que lançava afiados espinhos de bronze de toda a superfície ventral de seu corpo. Embora os bebês ficassem desesperados com essa manifestação de repulsa, simplesmente esperavam até que os espinhos recuassem e então, mesmo machucados e sangrando, tornavam a agarrar-se à mãe. Como nesses experimentos não foram encontradas nenhuma psicopatia, desistiram das mães-monstros artificiais e eles decidiram "construir " uma mãe-macaco verdadeira que era um monstro. Para produzir essas mães, criaram macacas em isolamento, a base de torturas e eletrochoques e depois enprenharam-nas com técnicas de estupro. Produzindo assim psicopatologias nessas mães e em seus bebês que eram rejeitados devido ao alto estresse e depressão em que as mães se encontravam.e-monstro que se sacudia violentamente, chacoalhando a cabeça e os dentes do rec

A conclusão é a de que nestes e em muitos outros casos, os benefícios para os seres humanos são inexistentes ou incertos, ao passo que as perdas para os membros de outras espécies são concretas e inequívocas.

“Se os experimentadores não estiverem preparados para usar um bebê humano, o fato de estarem prontos para usar animais não-humanos revela uma forma injustificável de discriminação com base na espécie” – Peter Singer. Para muitos essa idéia é inviável e chocante, mas se usarmos um ponto de vista (necessário) ético, admitir os testes com animais só se explica pela ótica especista, pela idéia fixa de superioridade e de que os animais existem meramente para servir aos homens, corroborada por algumas das principais correntes filosóficas e religiosas do planeta. Em geral, diz Singer, esses testes são movidos pelo prestígio no meio cientifico, por prêmios, bolsas e publicações, pela disputa mercadológica das indústrias e pelo lobby das empresas que fornecem materiais e cobaias, muito mais do que pelo interesse no bem estar da humanidade.

“Como podem pessoas que não são sádicas passar a vida provocando depressão em macacos, esquentando cães até a morte, eletrocutando porcos, cegando coelhos, asfixiando patos, congelando lagostas vivas, enlouquecendo ratos ou viciando gatos em drogas? Como podem tirar o jaleco branco, lavar as mãos e ir para casa jantar com a família? – Peter Singer.

Por que é que condenamos tão fortemente a escravidão humana e junto a ela o sofrimento, a pobreza e as práticas culturais onde seres humanos são maltratados (a exemplo a extração do clitóris nas mulheres africanas), e nos mascaramos com tanta hipocrisia ao taparmos os olhos para situações e práticas culturais muito menos dignas e muito mais sofríveis por quais trilhões de animais passam todos os dias?


“Respeitar animais é o mesmo que respeitar os humanos. Pois quando um homem leva um animal aos porões da degradação (e somos bons nisso!), está se degradando junto. Torturamos animais por diversão, devoramos a carne macia de filhotes, exterminamos espécies inteiras sem uma ruga de compaixão. Somos os senhores do Universo, cada vez menores em nosso egoísmo imaturo. E com toda nossa prepotência “racional”, nos esquecemos de que somos tão animais quanto um jegue ou uma barata, um tigre ou um pardal”. – Dagomir Marquesi.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vivissecção no Ensino



A vivissecção é o ato de dissecar um animal vivo com o propósito de realizar estudos de natureza anatomo-fisiológica. No seu sentido mais genérico, define-se como uma intervenção invasiva num organismo vivo, com motivações “científico-pedagógicas.”

Em Faculdades e Universidades de Biologia, Medicina, Medicina Veterinária, Psicologia, Odontologia, Enfermagem e áreas equivalentes, experiências em animais vivos (muitas vezes acarretando morte do mesmo) são comumente realizadas. Ela consiste em encaminhar animais vivos (entre eles, gatos, cachorros, ratos, anfíbios, galinhas, entre outros) para a sala da aula, onde são presos e contidos com anestesia (nem sempre adequadamente) para em seguida, com a presença do professor e alunos, serem abertos e estudados. Após a prática são mortos.

Essa prática no Brasil é hoje ainda muito duvidosa no que diz respeito a bases legais. De acordo com a lei 9.605/98 – artigo 32, praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos incorre em pena de detenção e multa, sendo que no §1º explicita que é incurso na mesma lei, experiências dolorosas ou cruéis em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. A pena é até aumentada de um sexto a um terço se ocorrer a morte do animal. Porém são nessas últimas palavras, “quando existirem recursos alternativos”, que a lei se torna confusa, de múltiplas interpretações e impraticável, como diversas outras leis federais. Na verdade, da forma como estão elaboradas as leis ambientais, não servem para proteger os animais de maus-tratos pois não os define. Aliás, em muitos artigos a lei chega a dar suporte para esses maus-tratos, de forma institucionalizada. Como vimos através da lei de crimes ambientais é permitido qualquer forma de exploração (desde experimentos e morte), desde que amparado pelo órgão competente. Afinal, só é necessário dizer que as experiências conduzidas não eram cruéis nem dolorosas, ninguém pode provar que eram porque não existe
uma máquina que diga o que é a dor dos outros.

E o que é pior, animais não-humanos não podem ligar para a polícia, para a ambulância, processar alguém, chamar um advogado, convocar uma entrevista coletiva ou formar uma ONG. Infelizmente eles dependem exclusivamente daqueles entre nós, humanos, que escutamos seus gritos de desespero.

Se aos animais fossem destinados os mesmos cuidados eas mesmas preocupações éticas, os estudos nesses casos seriam iguais aos de Medicina humana; utilizando-se de residências médicas em hospitais, estudos de anatomia através de livros, filmes e “museus de órgãos”, etc. Cabe a pergunta aqui, da forma mais coloquial possível: Por que é que para estudar humanos não é preciso matá-los e para animais sim?
A resposta é simples. Em NENHUM desses casos a morte é uma necessidade. Na Europa e Estados Unidos, muitas faculdades de medicina não mais utilizam animais, nem mesmo nas matérias práticas como técnica cirúrgica e cirurgia, oferecendo substitutivos em todos os setores. Nos EUA, mais de 100 escolas de medicina (quase 70%), incluindo Harvard, não utilizam animais.

Na Inglaterra e Alemanha, a utilização de animais na educação médica foi abolida. Sendo que na Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda) é contra a lei estudantes de medicina praticarem cirurgia em animais. Note-se que os médicos britânicos são comprovadamente tão competentes quanto quaisquer outros.

Na Itália, entre 2000 e 2001 mais de um terço das universidades abandonaram a utilização de animais para fins didáticos.

No Brasil, a Faculdade de Medicina Veterinária da USP desde 2000 não utiliza animais vivos em aulas de técnica cirúrgica. Utiliza cadáveres especialmente preparados, de animais que tiveram morte natural em clínicas e hospitais veterinários. A preparação é feita a partir de substâncias que preservam a consistência do tecido como a de animal vivo.

Os alunos praticam cirurgias de castração em cães e gatos levados pelos proprietários que desejam esterilizar seus animais.

Hoje, já há milhares de recursos que substituem o uso didático de animais nas salas de aula. Nas matérias básicas que necessitam de observação, abstração e raciocínio, como a fisiologia, a farmacologia e a toxicologia, há substitutivos para todos os temas, não sendo necessária a utilização de animais. Ex. Simulação computadorizada e realidade virtual.
Nos procedimentos ortopédicos e outros que envolvem habilidades manipulativas ou psicomotoras há também alternativas. Ex. venopunção e cateterização.

Nas cirurgias, os alunos aprendem em cadáveres sua primeira intervenção, abordagem e técnica. Depois disso, podem aplicar as técnicas em animais vivos, que irão sobreviver à cirurgia e ter um pós-operatório.

Há estudos que demonstram a mesma competência e habilidade tanto nos estudantes que aprenderam utilizando os métodos tradicionais como nos que aprenderam utilizando os métodos alternativos. Há casos que demonstram melhor memorização com métodos alternativos, pois a atenção do aluno fica livre para o aprendizado e não é prejudicada pelo stress de estar provocando sofrimento a um animal.

Fora que particularmente eu acho preferível um profissional (seja ele médico, médico veterinário, psicólogo, farmacêutico, etc) com atitudes éticas e morais, onde sua sensibilidade não foi abalada, do que um profissional que se abstêm da ética e cultua a insensibilidade.

Se você, aluno de universidade em que se utiliza a vivissecção, for contra esse método de “ensino”, pode se recusar a não mais assistir as aulas. Mais e mais estudantes, em todo o mundo, estão alegando “objeção de consciência” e muitos deles já se formam sem utilizar a vivissecção.

No Brasil, também já existem estudantes que se recusam a praticar a vivissecção alegando objeção de consciência, protegidos pela Constituição Federal do Brasil, na parte dos Direitos e Garantias Fundamentais que no Capítulo I artigo 5º diz: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza garantindo aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade, nos termos seguintes: VIII – ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

Quem estiver interessado é só me escrever que os direcionarei melhor.

No próximo artigo trataremos sobre a vivissecção em pesquisas fora das universidades.


Fontes: http://www.abrigodosbichos.com.br/Forum/Topico130.htm

http://www.angelfire.com/ky2/lilih2/vivis.html


Vou deixar como complemento do texto, links de um documentário muito bom. Um documentário brasileiro feito pelo Instituto Nina Rosa, sobre o assunto. Ele se chama “Não Matarás”. Está dividido em 7 partes:

http://www.youtube.com/watch?v=wvyEbQa0-E0

http://www.youtube.com/watch?v=GhDXlDjXb1o

http://www.youtube.com/watch?v=xbFoEnETiWk

http://www.youtube.com/watch?v=yBFJgy_enMU

http://www.youtube.com/watch?v=YPFDJbXi0_g

http://www.youtube.com/watch?v=XgHHV3Cto_Y

http://www.youtube.com/watch?v=JK6uWHCYdkw


"Pergunte para os vivisseccionistas por quê eles experimentam em animais e eles responderão: "Por que os animais são como nós".

Pergunte aos vivissecionistas por quê é moralmente aceito experimentar em animais e eles responderão: "Por quê os animais não são como nós".

A experimentação animal apoia-se na contradição da lógica.

(Professor Chales R. Magel - 1920)


Especismo



Entrando em detalhes, o que seria o especismo? Quando pensamos em racismo sabemos que o mesmo é uma aversão a outras raças; sendo assim, analogicamente o especismo seria uma aversão a outras espécies. Refletindo sobre isso, sabemos também que o racismo é infundado e prepotente; um sentimento que levaram brancos a excluir qualquer tipo de respeito (entre eles utilizar-se da escravidão) pelos negros, por acreditarem que eram inferiores, físico e biologicamente. O especismo, portanto, seria um “racismo ampliado” por considerar as outras espécies inferiores à nossa, então sujeitas “legal e moralmente” a qualquer adversidade (desde aprisionamento, trabalho forçado, morte, etc) por nós. Mas, pergunta-se, como é possível que alguém perca seu tempo tratando de igualdade dos animais quando a verdadeira igualdade é negada a tantos seres humanos? A resposta é a que essa atitude (negar importância à discussão sobre direito dos animais) reflete um preconceito que é tão infundado quanto aquele que um dia fez brancos proprietários de escravos não considerar com a devida seriedade os interesses dos negros escravos.

Esse pensamento especista está enraizado na maioria esmagadora de nós, e em contrapartida, condeno-o e luto veemente contra ele. Cínara Nahra, professora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e mestre na área de filosofia Moral e Política pela UFGRS tem uma opinião semelhante a respeito: “Seja qual for a natureza do ser, o valor moral exige que a dor e o sofrimento sejam levados em conta em termos de igualdade; e independente da raça, do sexo ou da espécie de quem as sofre, devem ser evitadas ou mitigadas”.

Obviamente animais humanos e não-humanos são diferentes (assim como homens e mulheres também são) físico e biologicamente, porém no campo ético devem ser tratados a partir dos mesmos princípios. Como sintetizou Jeremy Bentham, a questão sobre animais não é “Eles são capazes de raciocinar?”, nem “São capazes de falar?”, mas sim: “Eles são capazes de sofrer?”.

O modo como tratamos os animais não se compara nem de longe ao sofrimento que nós já infringimos a outros seres humanos.

“Em seu comportamento com os animais, todos os homens são piores que nazistas”. A frase é do escritor judeu Isaac Bashis Singer, citada no livro “Libertação Animal” de Peter Singer. Após estas postulações eu os convido a refletir, partindo da constatação de que a crueldade humana para com os animais se manifesta de formas variadas – na alimentação, experiências científicas, circos, zoológicos, touradas, brigas de galo, rodeios, na pesca expansiva e predatória, na exploração de peles e couro, para citar as mais comuns.

Ao decorrer do blog e do interesse e participação de vcs, vou postando aqui mais informações sobre o especismo em todas as suas áreas abrangentes, que citei.


Pra deixar mais claro o que é o especismo, foi criado esse documentário, que na minha opinião é o melhor filme já feito. Do diretor Shaun Monson e narrado pelo ator Americano Joaquim Phoenix (Gladiador), o filme foi possível cotado para o Oscar. Mas é lógico que, um documentário desses não iria por mexer diretamente com instituições milionárias.

Vale a pena assistir. Se Chama Earthlings (Terráqueos):


http://video.google.com/videoplay?docid=-239204330856039070