Na questão dos testes e experimentos com animais em laboratórios, na maioria dos casos estes não representam benefícios ao homem. Adotados em áreas como a psicologia, as pesquisas militares e a indústria de produtos que vão desde medicamentos até cosméticos, produtos de limpeza, velas e canetas. “É enorme o risco de se extrapolar de uma espécie a outra os resultados de experimentos científicos. Substâncias liberadas após se mostrarem inofensivas aos animais foram muitas vezes catastróficas para os seres humanos”. – diz Adriana Lisboa. Isto sem falar na exposição a atos de crueldade extremos sob a desculpa de que estão sendo realizadas experiências que seriam úteis para os humanos.
Em seu livro “Libertação Animal”, Peter Singer cita experiências que foram realizadas em décadas passadas no Instituto de Radiobiologia das Forças Armadas dos EUA, em que macacos do gênero Rhesus eram forçados a correr dentro de uma grande roda. Quando eles reduziam a velocidade, a roda fazia o mesmo e os macacos levavam choques elétricos. Quando os macacos já estavam treinados para correr por longos períodos recebiam doses letais de radiação, e então, sentindo-se mal e vomitando, eram obrigados a continuar correndo até cair. A suposta finalidade desta “experiência” era obter informações sobre a capacidade dos soldados de continuar lutando depois de um ataque nuclear.
Mais de 70 milhões de animais são usados em experimentos a cada ano só nos Estados Unidos. Uns poucos exemplos mais notórios da vivissecção podem ser esclarecedores para os menos informados (tirado do livro "Victims of Science" de R. Ryder):
- Psicólogos deram choques elétricos nos pés de 1042 ratos. Eles então experimentaram dar choques mais intensos, que causaram convulsões, através de eletrodos pontiagudos aplicados aos olhos dos animais ou através de prendedores aplicados às suas orelhas.
- Um grupo de 64 macacos foram induzidos à dependeria de drogas por injeção automática nas veias jugulares. Quando o abastecimento das drogas foi cortado abruptamente, observou-se que alguns dos macacos morreram em convulsões. Antes de morrerem, alguns dos macacos arrancaram todos os pelos
de seu corpo e arrancaram seus próprios dedos das mãos e dos pés à dentadas.
Outros casos clássicos, descritos no livro, remete-se a área da Psicologia (considerada uma das mais cruéis e evasivas). Em experimentos para se descrever as conseqüências da privação materna, pesquisadores tiveram a “fascinante idéia” de induzir macacos bebês à depressão “permitindo que se apegassem a mães de pano que podiam transformar-se em monstros”. O primeiro destes monstros foi uma macaca-mãe de pano que lançava ar comprimido de alta pressão, arrancando a pele do bebê, que se agarrava cada vez mais ao boneco de pano, porque um bebê com medo se agarra à mãe a todo custo. Logo após construíram outra mãe-monstro que se sacudia violentamente, chacoalhando a cabeça e os dentes do recém-nascido, que continuava a se agarrar ainda mais a "mãe". O terceiro monstro continha uma estrutura de arame dentro do corpo que se inclinava pra frente, jogando o bebê para longe de sua superfície ventral. Surpreendentemente o bebê levantava-se do chão, esperava a estrutura voltar ao corpo de pano e agarrava-se novamente a ela. Finalmente, construíram uma mãe porco-espinho, que lançava afiados espinhos de bronze de toda a superfície ventral de seu corpo. Embora os bebês ficassem desesperados com essa manifestação de repulsa, simplesmente esperavam até que os espinhos recuassem e então, mesmo machucados e sangrando, tornavam a agarrar-se à mãe. Como nesses experimentos não foram encontradas nenhuma psicopatia, desistiram das mães-monstros artificiais e eles decidiram "construir " uma mãe-macaco verdadeira que era um monstro. Para produzir essas mães, criaram macacas em isolamento, a base de torturas e eletrochoques e depois enprenharam-nas com técnicas de estupro. Produzindo assim psicopatologias nessas mães e em seus bebês que eram rejeitados devido ao alto estresse e depressão em que as mães se encontravam.
A conclusão é a de que nestes e em muitos outros casos, os benefícios para os seres humanos são inexistentes ou incertos, ao passo que as perdas para os membros de outras espécies são concretas e inequívocas.
“Se os experimentadores não estiverem preparados para usar um bebê humano, o fato de estarem prontos para usar animais não-humanos revela uma forma injustificável de discriminação com base na espécie” – Peter Singer. Para muitos essa idéia é inviável e chocante, mas se usarmos um ponto de vista (necessário) ético, admitir os testes com animais só se explica pela ótica especista, pela idéia fixa de superioridade e de que os animais existem meramente para servir aos homens, corroborada por algumas das principais correntes filosóficas e religiosas do planeta. Em geral, diz Singer, esses testes são movidos pelo prestígio no meio cientifico, por prêmios, bolsas e publicações, pela disputa mercadológica das indústrias e pelo lobby das empresas que fornecem materiais e cobaias, muito mais do que pelo interesse no bem estar da humanidade.
“Como podem pessoas que não são sádicas passar a vida provocando depressão em macacos, esquentando cães até a morte, eletrocutando porcos, cegando coelhos, asfixiando patos, congelando lagostas vivas, enlouquecendo ratos ou viciando gatos em drogas? Como podem tirar o jaleco branco, lavar as mãos e ir para casa jantar com a família? – Peter Singer.
Por que é que condenamos tão fortemente a escravidão humana e junto a ela o sofrimento, a pobreza e as práticas culturais onde seres humanos são maltratados (a exemplo a extração do clitóris nas mulheres africanas), e nos mascaramos com tanta hipocrisia ao taparmos os olhos para situações e práticas culturais muito menos dignas e muito mais sofríveis por quais trilhões de animais passam todos os dias?